Recentemente, tem se tornado comum ver debates na internet onde a simples menção do pecado – ou a declaração de que certas práticas o são – é rotulada como discurso de ódio. Essa reação, seja ela vinda de secularizados ou de pessoas com pouco conhecimento bíblico, revela uma profunda incompreensão do que a fé cristã entende por pecado, e o quão universal e devastador ele é.
Em nosso espaço, o Ninho Sagrado, onde buscamos edificar a família e a vida devocional, é vital esclarecer a verdade: o pecado não é uma arma direcionada a grupos específicos; é uma condição que atinge toda a humanidade e é o motivo central pelo qual precisamos de Jesus.
I. O Que É o Pecado, Afinal? Desvendando a Natureza do Mal
A definição bíblica do pecado vai muito além de meras falhas morais ou erros sociais. A Escritura o define como transgressão da Lei de Deus (1 João 3:4) e injustiça (1 João 5:17). Em termos mais profundos, o pecado é, fundamentalmente, uma rebelião contra a santidade e a soberania de Deus.
É a substituição da glória e da vontade do Criador pela glória e a vontade da criatura.
A Origem: A Queda e o Pecado Original
O pecado não é um acidente, mas uma herança. Como o teólogo Jonathan Edwards explica em seu clássico “Pecado Original”, a desobediência de Adão afetou toda a humanidade, tornando-nos culpados e corrompidos desde o nosso nascimento.
- Não é um Problema de Educação: Não pecamos porque somos mal-educados; somos mal-educados porque somos pecadores.
- Não é uma Fraqueza Superficial: É uma corrupção radical de nossa natureza.
A Depravação Total: Uma Corrupção Universal
A teologia cristã reformada, baseada nas Escrituras, afirma a doutrina da Depravação Total. Como sugere a resenha do livro “A Depravação Total” (Solus Cristo), isso não significa que o ser humano é tão mau quanto poderia ser, mas sim que cada aspecto do nosso ser (mente, vontade, emoções) foi afetado e corrompido pelo pecado.
O Reverendo Augustus Nicodemus, ao analisar Romanos 7:13-25, revela o desespero de um homem que, mesmo com a Lei de Deus sendo espiritual, justa e boa, se descobre carnal e “vendido à escravidão do pecado”.
A Lei revela o pecado, mas não dá a força para vencê-lo, expondo a nossa falta de capacidade de fazer o bem. O homem descobre que “em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum”. O pecado se torna uma “lei” ou um poder que reside e domina o indivíduo.
II. Quem o Pecado Atinge?
O pecado é o problema da humanidade, não de um grupo específico.
O argumento de que a menção do pecado é “discurso de ódio” falha porque ele pressupõe que a igreja está apontando o dedo apenas para outros – para minorias, para quem está fora, para quem tem práticas diferentes. A verdade cristã, contudo, é a mais inclusiva e igualitária de todas as afirmações:
O Pecado Atinge a Todos. Absolutamente Todos.
A Bíblia é clara: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23).
A Verdadeira Inclusão do Pecado
- Inclui a Escritora (Eu): Sou pecadora, falha, e carente da graça. Minha única esperança é Jesus.
- Inclui o Líder Religioso: Mesmo o pastor mais piedoso luta diariamente contra o mal que reside em sua natureza.
- Inclui o Secularizado: A pessoa que não professa nenhuma fé, ou aquela que critica a moralidade bíblica, também é escrava do pecado, mesmo que não reconheça seu “patrão”.
O autor Ralph Venning, em “A Pecaminosidade do Pecado”, nos força a confrontar a gravidade do pecado. A teologia não inventa o pecado para atacar; ela o expõe porque ele já existe e já nos escraviza.
Ao contrário de ser um discurso de ódio, a declaração de que o Ódio / Ira / Assassinato/ Falso Testemunho / Mentira/ Adultério / Imoralidade Sexual/Gula / Embriaguez/Cobiça / Invejae e outros , é, na verdade:
- Uma Advertência de Amor: É um aviso de que uma prática desvia da vontade de Deus e coloca a alma em risco. O pecado “me causou a morte”, diz a Escritura. Avisar sobre a morte não é odiar; é amar.
- Um Convite Universal: Se o pecado fosse só de um grupo, a solução seria exclusiva. Mas como o pecado é de todos, o convite à salvação é aberto a todos, sem exceção, sejam eles quem forem, venham de onde vierem, e tenham praticado o que for.
A luta do cristão é contra o Pecado que habita em si mesmo, não contra a pessoa do próximo.
III. A Luta Contra o Inimigo Interno: A Mortificação do Pecado
Se o pecado é uma condição universal, o que o cristão faz a respeito?
A jornada do crente é de Santificação, o processo de ser transformado à imagem de Cristo. Este processo não significa que o cristão nunca mais peca, mas que ele não é mais escravo do pecado (Romanos 6:6).
O famoso puritano John Owen ensina em “A Mortificação do Pecado” que “viver é matar: um cristão está vivo para mortificar o pecado.”
O Conflito do Crente (Diferente da Derrota do Incrédulo)
Enquanto o homem de Romanos 7, sem Cristo, está em derrota completa (só consegue fazer o mal que odeia), o crente está em conflito. Há uma luta diária, como Paulo descreve em Gálatas 5, entre a carne e o Espírito.
- O Cristão Vence: Pelo poder do Espírito Santo, o crente é capacitado a dominar o pecado e a fazer o bem. Ele pode experimentar quedas, mas sua direção geral é de obediência e arrependimento.
- A Base da Luta: A luta não é travada com força de vontade humana, mas pela Graça de Deus.
A Perseverança Pela Graça
O pecado é um inimigo interno que tentará nos derrubar até o fim. É por isso que dependemos totalmente da obra de Cristo e da fidelidade de Deus. O livro “Perseverança pela Graça”, de Daniel Deeds, trata da segurança que temos: é Deus quem nos sustenta.
Nossa perseverança na fé é uma demonstração da fidelidade de Deus, que nos guarda até o fim (Filipenses 1:6). Se pecarmos, é a Graça que nos leva ao arrependimento, e a Lei de Deus (os mandamentos) se torna o guia para a nova vida, e não mais o caminho para a condenação.
IV. A Única Resposta ao Desespero: Graças a Deus!
Se a nossa condição é de Depravação Total, escravidão e condenação (como Paulo descreve o homem que se descobre miserável), qual é a solução? O grito de desespero “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” não termina em vazio.
A resposta não está na Lei, na religião, na moralidade, nem em terapias ou filosofias. A única resposta é:
“Graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor!” (Romanos 7:25).
A mensagem do Evangelho é a mais poderosa prova de que o pecado não é ódio, mas sim o diagnóstico que leva ao amor:
- Jesus Levou Nossa Condenação: Ele, o único Justo, foi condenado em nosso lugar, livrando-nos da pena da Lei.
- Jesus Nos Libertou da Escravidão: Pelo Espírito, o crente é livre do domínio do pecado e introduzido a uma “nova vida no Espírito” (Romanos 8).
A pregação do pecado é um ato de amor e humildade, pois ela coloca o cristão e o não-cristão no mesmo patamar: ambos miseráveis, ambos carentes de Salvação. E o convite é para todos.
Um Chamado à Reflexão
Querida leitora(o), se a descrição do homem sem Cristo em Romanos 7 – que sabe o que é certo, mas não consegue fazê-lo – ecoa em seu coração, saiba que você não está sozinha.
Se você está cansada de lutar em suas próprias forças, de se ver fazendo o mal que detesta, saiba que a Graça de Deus é suficiente. Não venha a Deus em soberba, exigindo seus “direitos”, mas venha em humildade e quebrantamento, batendo no peito de longe, como o publicano: “Tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13).
Somente quando desistimos de nós mesmos e de nossa justiça própria é que podemos receber o perdão e a liberdade que há em Jesus Cristo.
Que o nosso lar e a nossa vida devocional sejam construídos sobre esta verdade: Somos pecadores, mas fomos alcançados por uma Graça gloriosa!