Como estamos afiando as nossas flechas?

“Como flechas na mão do guerreiro, assim são os filhos da mocidade.” (Salmo 127:4)

Quando olho para esse versículo, meu coração de mãe se enche de temor e responsabilidade. Deus nos confiou filhos como uma herança, como flechas preciosas em Suas mãos. E a pergunta que precisa ecoar dentro de nós, pais, é: como estamos afiando as nossas flechas?

Vivemos em um tempo em que muitas famílias têm delegado a formação dos filhos à televisão, à internet, à escola e aos influenciadores digitais. Mas a Palavra de Deus nos ensina que é nossa missão, dentro do lar, discipular, ensinar, corrigir e amar nossos filhos, guiando-os na verdade do evangelho. Não é tarefa do Estado, não é responsabilidade da mídia, e muito menos da cultura. É responsabilidade nossa, dada por Deus.

Filhos: herança e missão

O salmista nos lembra de que filhos são herança do Senhor. Eles não são apenas parte da nossa vida: são dádiva, galardão, presente divino. Cada filho é uma flecha entregue em nossas mãos para que seja preparada, afiada e lançada na direção correta. Uma flecha que não é afiada não alcança o alvo; uma flecha sem direção pode ferir em vez de proteger.

Na Bíblia, aprendemos que Deus governa todas as coisas em Sua providência. Se Ele nos deu filhos, também nos dá a missão de instruí-los “na disciplina e admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). Essa é a essência do discipulado no lar. Não é opcional, é chamado.

Quando deixamos outros afiar nossas flechas

A realidade atual é que muitas crianças e adolescentes têm sido formados pela mídia. E isso não é neutro. Estudos recentes mostram que o uso precoce de celulares aumenta o risco de depressão, irritabilidade, dificuldades de concentração e até pensamentos suicidas. Uma pesquisa global com quase 2 milhões de pessoas revelou que meninas que começaram a usar celulares aos 5 ou 6 anos tiveram índices de pensamentos suicidas quase duas vezes maiores na vida adulta, em comparação às que tiveram acesso só depois dos 13.

Além disso, pesquisas brasileiras mostram que o uso de telas sem supervisão, especialmente antes dos 3 anos, está ligado a atrasos cognitivos e emocionais. Crianças pequenas não têm maturidade para filtrar informações, distinguir verdade de mentira, nem entender as consequências de comportamentos que assistem. E, ainda assim, muitas vezes entregamos nossos filhos a horas e horas de entretenimento digital apenas para termos “tempo livre”.

O que isso significa na prática? Que nossas flechas estão sendo afiadas por influenciadores, artistas, ideologias, propagandas. E em vez de flechas direcionadas à glória de Deus, elas podem se tornar instrumentos nas mãos do inimigo. Isso é duro de ouvir, mas necessário.

A maturidade que nossos filhos não têm

Nós, adultos, às vezes esquecemos que nossos filhos ainda estão em formação. E essa não é apenas uma ideia espiritual, mas também científica. Estudos em neurociência mostram que:

  • Até os 5 anos: o cérebro forma a base para linguagem, memória, emoções e relações sociais. Experiências precoces moldam profundamente a vida futura.
  • Até os 12 anos: há crescimento das habilidades cognitivas, mas o córtex pré-frontal (responsável por planejamento e autocontrole) ainda é imaturo.
  • Dos 13 aos 18 anos: o sistema emocional amadurece mais rápido que o racional, por isso adolescentes são impulsivos, buscam aprovação social e correm riscos.
  • Dos 18 aos 25 anos: o córtex pré-frontal só atinge plena maturidade nessa fase, tornando o jovem capaz de decisões mais sólidas e controle de impulsos.

Ou seja: antes dos 18 anos, o cérebro ainda não está plenamente formado. Isso confirma que crianças e adolescentes não têm discernimento suficiente para lidar sozinhos com o peso das informações da mídia, das redes sociais e das ideologias. O coração infantil é terreno fértil, e se não plantarmos a Palavra, o mundo plantará seus espinhos.

É por isso que deixar uma criança livre na internet, nas redes sociais ou diante de uma TV sem filtro é como abandonar uma flecha no chão do campo de batalha. Ela será usada, mas não para o propósito de Deus.

A responsabilidade que é nossa

Como pais, muitas vezes cedemos à tentação de delegar. A escola que ensine. A igreja que discipule. O tablet que entretenha. Mas a Bíblia nos chama a uma verdade inegociável: a educação espiritual é dever do lar. Pastores, professores e líderes podem auxiliar, mas a primeira responsabilidade é nossa.

John Piper lembra que nossos filhos são dados por Deus para serem lançados como “flechas missionárias” no mundo. E isso não acontece por acaso. É preciso oração, ensino, disciplina, devocionais em família, histórias bíblicas, conversas profundas. É preciso tempo de qualidade, presença intencional.

Se não estivermos dispostos a gastar tempo afiando nossas flechas, alguém fará isso por nós — e quase nunca para o bem.


Práticas para afiar as flechas em casa

  1. Estabeleça devocionais familiares – momentos simples de leitura bíblica, oração e cânticos em casa.
  2. Limite e supervise o uso de telas – crianças pequenas não devem ter celulares próprios; adolescentes precisam de limites claros e acompanhamento.
  3. Converse sobre o que eles assistem – não basta proibir; é preciso explicar, orientar e mostrar à luz da Palavra.
  4. Ensine pela prática – sua vida é o maior exemplo; flechas aprendem mais pela direção do arqueiro do que pelo discurso.
  5. Invista em histórias e músicas cristãs – a mente infantil é moldada por narrativas; dê a elas as histórias da fé.
  6. Ore diariamente por seus filhos – lembre-se: só o Espírito Santo pode converter o coração.

Quando nossas flechas ferem a nós mesmos

Uma verdade dolorosa é que, ao negligenciarmos a formação dos filhos, não apenas eles sofrem, mas nós mesmos. O texto do salmo fala que o homem que tem sua aljava cheia “não será confundido quando falar com os inimigos à porta”. Ou seja, filhos preparados são também defesa e honra para os pais. O contrário também é real: filhos entregues ao mundo se tornam motivo de dor, de conflito, até de vergonha.

Quando permitimos que celulares, televisão e internet sejam os principais educadores, estamos abrindo brechas para que a nossa própria casa seja enfraquecida. O inimigo não precisa entrar pela janela se nós o convidamos pela tela.

Conclusão: a direção do arqueiro

Meus irmãos e irmãs, filhos não são acidentes, não são acessórios da vida moderna, não são fardos. São flechas na mão do guerreiro. O Senhor nos entregou uma missão: afiar, apontar e lançar. A questão que fica é: para onde estamos apontando?

Se deixarmos que a mídia, o Estado ou a cultura afiem nossos filhos, perderemos a batalha espiritual dentro do nosso lar. Mas se, com amor, disciplina e a Palavra, formos fiéis em ensinar, o Senhor fará deles flechas que alcançarão alvos para a glória d’Ele.

Que possamos assumir com seriedade e alegria essa missão. Nossos filhos não podem esperar. Cada dia é uma oportunidade de afiar. Cada conversa, cada oração, cada limite estabelecido é um golpe da pedra que prepara a flecha. E quando chegar a hora de lançá-la, que possamos fazê-lo com confiança de que ela seguirá firme na direção certa: Cristo Jesus.

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