Entre Ondas e Caminhos: Uma Reflexão de uma Mãe, Esposa e Serva de Deus

Há alguns dias, viajei com minha família para a Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Era uma viagem muito especial, porque além de ser um descanso, também era uma oportunidade de estarmos todos juntos: eu, meu marido, minha filha, minha irmã e o esposo dela. Ficamos hospedados na casa de uma tia que mora lá — um lugar aconchegante, cheio de memórias de família e com aquele clima gostoso de casa de parente que acolhe.

Fomos todos à praia. O tempo estava perfeito: céu azul, vento suave e aquele mar que misturava tons verdes e azuis, bem típico da região. Meu marido, minha filha e meu cunhado ficaram na areia organizando as coisas — guarda-sol, cadeiras, brinquedos de praia — enquanto eu e minha irmã decidimos entrar na água para nos refrescar.

Entramos conversando, rindo, aproveitando aquele momento só nosso. Mas assim que a água bateu na cintura, minha irmã me cutucou:

“Olha ali, cuidado, tem uma água-viva!”

Eu olhei curiosa e falei:

“Deixa eu ver… será que dá para pegar?”

Aproximei-me um pouco, mas quando cheguei mais perto percebi que era uma caravela-portuguesa — aquela com tentáculos longos, azulados, que ardem com força. No momento em que cheguei perto, ela abriu os tentáculos como se estivesse se preparando para se defender. Levei um susto e soltei na mesma hora.

Saímos dali rapidamente, mas algo curioso acontecia:
mesmo quando a gente empurrava a água-viva para longe, ela voltava.
Mudávamos de lugar, e ela aparecia de novo.
Era como se estivesse presa a um movimento inevitável, arrastada pela maré.

E naquele instante, enquanto eu e minha irmã ríamos meio nervosas, algo começou a fermentar dentro de mim:

“Será que a água-viva consegue escolher para onde vai? Ou simplesmente vai para onde a maré leva?”

Perguntei ali mesmo, mas ninguém sabia.
E aquilo ficou comigo.

Quando voltamos para a casa da minha tia, a cena da água-viva ainda não tinha saído da minha cabeça. Depois de dar banho na minha filha e arrumar as coisas, peguei o celular e comecei a pesquisar:

“Água-viva tem controle sobre para onde vai?”

Descobri que não.
Na verdade, a água-viva só consegue fazer pequenos impulsos para cima e para baixo. Ela não escolhe direção. A caravela então… nem isso. Ela é levada pelos ventos e pelas correntes marítimas. Simplesmente deriva.

E porque é vulnerável — quase totalmente sem controle — ela precisa se defender.
Se alguém chega perto demais, ela queima.
Não por maldade, mas por medo.
Por reflexo.
Por sobrevivência.

Aquilo me tocou profundamente.

Fiquei pensando:
“Meu Deus… quantas vezes eu também vivo assim? Levando ‘queimadas’ da vida e queimando outras pessoas por causa das minhas vulnerabilidades?”

Continuei refletindo, até que meu marido passou pela sala.
Eu o chamei:

— “Amor, sabia que a água-viva não controla para onde vai? Fiquei chocada com isso. Fiquei pensando… qual seria o oposto dela? Um animal que tem direção, propósito, foco?”

Ele pensou por alguns segundos e respondeu:

“A baleia-jubarte.”

Me virei para ele surpresa:

— “Sério? Por quê?”

E então ele explicou:

— “Porque a jubarte migra com propósito. Ela atravessa oceanos, procura águas específicas, lugares paradisíacos, viaja milhares de quilômetros para se reproduzir, para ter o filhote, para cumprir seu ciclo. Ela não é levada. Ela vai. Ela sabe para onde está indo.”

Aquilo me acertou em cheio.
Na hora eu pensei:

“Que coisa mais linda… que contraste perfeito:
a água-viva que deriva,
e a jubarte que peregrina com propósito.”

E ali, naquela simples conversa com meu marido, Deus abriu uma janela enorme no meu coração.

Comecei a lembrar de tudo que já tinha visto em documentários e lido sobre essa criatura incrível. A jubarte:

✨ cruza oceanos inteiros
✨ percorre rotas de migração milenares
✨ busca águas quentinhas para ter seus filhotes
✨ retorna aos mesmos lugares
✨ faz tudo com propósito e direção

Enquanto a água-viva é levada…
a jubarte escolhe a rota.

Enquanto a água-viva reage…
a jubarte avança.

Enquanto a água-viva fere por medo…
a jubarte cuida, gera vida, protege.

E eu ouvi Deus tocar algo em mim:

“Filha, o mar é o mesmo.
Mas a postura é diferente.
Você não foi feita para ser levada.
Você foi criada para ser guiada.”


Ainda com o barulho das ondas na memória e o coração cheio de reflexões, escrevi este poema. Ele nasceu daquele encontro simples na praia — mas que trouxe um ensino profundo para minha vida espiritual:


🌊 O Poema

“Entre Ondas e Caminhos”

No mar imenso onde
a água-viva deriva sem rumo,
a jubarte navega firme.

A água-viva gira sem direção,
levada pelo vento,
presa à corrente,
indefesa diante das ondas.
E por medo, por fragilidade,
ela queima quem chega perto.

Mas a jubarte…
ela dança com propósito.
Cruza mares inteiros,
atravessa distâncias,
segue rotas antigas
escritas por Deus nela.

Ela procura águas quentinhas,
gera vida,
protege o pequeno,
e volta sempre ao lugar
onde a criação começou.

E assim sou eu, Senhor —
às vezes água-viva:
instável, levada, reativa,
machucando sem querer
por causa das minhas dores.

Mas Tu me chamas
a ser como a jubarte:
guiada, não arrastada;
firme, não frágil;
cheia de propósito, não de medo.

Que eu aprenda a cruzar
os mares da vida
ouvindo Tua voz
mais do que a correnteza.

Que minhas emoções
não me arrastem,
mas Teu Espírito
me conduza.

Faz de mim, Pai,
uma mulher que não deriva,
mas que navega —
direcionada por Ti.

Amém.


🌊 Reflexão final

Aquela pequena cena na praia — eu e minha irmã fugindo da água-viva que insistia em voltar — um dos ensinamento recebi.

E tudo se completou quando meu marido lembrou da jubarte.

Hoje eu entendo:

✔ A água-viva simboliza minhas emoções sem direção.
✔ A jubarte simboliza minha vida guiada por Deus.
✔ O mar continua o mesmo — mas eu posso ser diferente.

E minha oração desde aquele dia é:

“Senhor, tira do meu coração tudo o que me faz ser arrastada.
E coloca em mim tudo o que me faz navegar.”

Porque quando somos guiadas por Deus,
a gente chega — sempre — onde Ele quer nos levar.

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